TDAH e uso excessivo de telas por adolescentes: entenda a conexão
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) não é uma novidade no campo da saúde. Sua primeira aparição nos manuais estadunidenses data de 1968, mas foi a partir do DSM-III, em 1985, que o tema ganhou maior atenção. Atualmente, o TDAH está em destaque devido ao aumento significativo nos diagnósticos e essa realidade é observada também na escola.
Para a professora Sônia Naufal, psicopedagoga, neurocientista e mentora de estudos do Colégio Prime, em Londrina, um fator que contribui para essa elevação é o uso excessivo de telas. “Quando a criança ou adolescente exagera no uso de dispositivos eletrônicos, pode apresentar comportamentos semelhantes aos sintomas do TDAH”, diz.
O que é TDAH?
Antes de refletir sobre o excesso de diagnósticos e uso exagerado de telas, é preciso entender o que é TDAH. Trata-se de um transtorno neurobiológico caracterizado por sintomas como desatenção, impulsividade e hiperatividade, que resultam em falta de paciência para escutar e refletir, pouca tolerância à frustração e dificuldades em manter a atenção, a não ser que seja uma atividade de interesse.
Apresentar esses sintomas, por si só, não confirma o diagnóstico de TDAH, que deve ser realizado por neurologistas ou psiquiatras, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. Inclusive, exames de imagem cerebral podem revelar diferenças em indivíduos com TDAH.
O impacto das telas e a confusão com TDAH
O uso excessivo de dispositivos digitais, como smartphones, videogames e outros jogos eletrônicos, tem sido motivo de grande preocupação para pais e educadores. Naufal explica que as telas oferecem recompensas rápidas e fáceis, algo que o cérebro, especialmente o adolescente, busca constantemente devido ao córtex pré-frontal ainda estar em desenvolvimento (fechamento 25 anos).
“Esse uso exagerado pode levar à perda de capacidade de concentração e foco, sintomas que são frequentemente confundidos com TDAH”, pontua ela.
Além disso, para aqueles que já possuem o diagnóstico de TDAH, o uso excessivo de telas pode agravar os sintomas, aumentando a irritabilidade, a perda de controle e, em casos extremos, resultando em vício digital. As consequências disso se refletem na qualidade do sono, na alimentação inadequada e no sedentarismo, fatores que prejudicam a aprendizagem e a qualidade de vida.
Manejo do TDAH na escola
Para os alunos diagnosticados com TDAH, a escola desempenha um papel fundamental no apoio ao seu desenvolvimento. Estratégias individualizadas são essenciais e podem incluir:
- Sentar o aluno nas primeiras fileiras da sala de aula para reduzir distrações.
- Provas realizadas em ambientes separados para aumentar a concentração.
- Leitura das provas por outra pessoa, ajudando na compreensão e concentração.
Essas adaptações visam criar um ambiente mais favorável para a aprendizagem e o desenvolvimento acadêmico do aluno com TDAH.
Naufal destaca que o diagnóstico precoce e um acompanhamento adequado desde a infância podem reduzir significativamente a necessidade de apoio contínuo ao estudante. As opções de tratamento incluem medicação prescrita por médicos, que ajuda a estabilizar o funcionamento cerebral.
No entanto, mudanças comportamentais são igualmente importantes. Reduzir o consumo de cafeína e alimentos ultraprocessados, realizar exercícios físicos regularmente e manter uma boa higiene do sono, incluindo a redução do uso de telas antes de dormir, são medidas recomendadas.
Dicas para ajudar seu filho com TDAH nos estudos
Naufal destaca que os pais podem desempenhar um papel ativo no apoio aos estudos de seus filhos com TDAH, o que não significa assumir as responsabilidades no lugar deles. Confira algumas dicas:
- Auxiliar na organização do material escolar.
- Verificar regularmente se as obrigações estão sendo cumpridas.
- Ajudar com a leitura e mostrar interesse pelo que estão aprendendo.
- Oferecer apoio enquanto promovem autonomia.
Reduzindo o uso de telas em adolescentes
Temos certeza que a maioria dos pais entende a necessidade de reduzir o uso de telas entre os adolescentes. Conseguir atingir esse objetivo, entretanto, é um desafio bem maior. Naufal lembra que o primeiro passo é dar o bom exemplo, evitando o uso de dispositivos durante refeições e momentos de conversa. Negociar horários de uso, oferecer alternativas como passeios, jogos de tabuleiro e incentivar momentos de ócio são estratégias eficazes.
“Educar é um ato de doação que implica em preparar para o mundo e não simplesmente jogar os adolescentes neste universo. Mesmo no ensino médio, lembre-se que seu filho ainda precisa de tutela e vai se beneficiar pela imposição de limites”, resume.