Racismo no futebol: ofensas a Vini Jr. não são um caso isolado

O jogador de futebol Vini Jr, que atua no Real Madrid, na Espanha, foi mais uma vez vitimado pelo racismo em uma partida disputada contra o time do Valencia pelo campeonato espanhol. Essa foi a 11º ocorrência de ofensas raciais contra ele desde que passou a atuar no Real Madrid em 2021. 

 

Muito embora seja chocante ouvir torcedores chamarem de “macaco” um atleta preto, a LaLiga, liga da primeira divisão do futebol espanhol, segue sem determinar punição aos times rivais. A situação expõe um problema que extrapola os gramados dos estádios: o racismo estrutural no futebol.

 

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Entenda o caso

Vini Jr. é o ídolo responsável pelo gol que deu ao Real Madrid o título de campeão da Champions League em 2021/2022. Ao mesmo tempo, acumula um histórico de ataques racistas e discursos de ódio por parte de torcedores, jornalistas e até dirigentes de futebol. 

 

O episódio de racismo ocorrido no dia 21 de maio de 2023, em jogo do Real contra o Valencia pelo Espanhol ,iniciou aos 24 minutos, quando o craque brasileiro reclamou com a arbitragem sobre um lance em que um jogador do Valencia atrapalhou o reinício da partida. 

 

A torcida localizada atrás do gol, formada pelo grupo fascista Yomus, aumentou os xingamentos racistas contra o jogador, chamando-o de “macaco” por várias vezes. O brasileiro rebateu as ofensas e chamou o árbitro Ricardo De Burgos Bengoetxea para apontar os torcedores racistas, mas eles não foram expulsos, mesmo com a chegada da polícia espanhola no local. O jogo chegou a ser paralisado por oito minutos.

 

Já no fim do jogo, uma confusão entre vários jogadores dos dois times paralisou novamente o jogo. E após sofrer um mata-leão, Vini Jr. revida com um tapa e é expulso do jogo. 

A resposta de Vini Jr.

Após o 11º caso de racismo sofrido na Espanha  em menos de dois anos, Vini Jr publicou nas redes sociais uma crítica à ineficiência da LaLiga na punição aos responsáveis pelas ofensas racistas. “O prêmio que os racistas ganharam foi a minha expulsão. Vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”, indicando uma possível saída do clube. Javier Tebas, presidente da LaLiga, rebateu o jogador, afirmando que ele precisava “se informar adequadamente”, mas Vini não recuou.  

O caso ganhou notoriedade e levou diversas instituições a se posicionarem:

  • O Real Madrid afirmou que irá acionar a justiça espanhola através da Procuradoria-Geral da Espanha.
  • O Valencia informou que irá banir os torcedores racistas. 
  • No Brasil, os ministérios do Esporte; da Igualdade Racial; das Relações Exteriores; da Justiça e Segurança Pública; e dos Direitos Humanos e da Cidadania assinaram uma nota conjunta  pedindo que “as autoridades governamentais e esportivas da Espanha tomem as providências necessárias, a fim de punir os perpetradores e evitar a recorrência desses atos. Apela, igualmente, à FIFA e à Liga a aplicar as medidas cabíveis”.
  • Em discurso no G7, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “é importante que a Fifa e a liga espanhola tomem sérias providências, porque nós não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dos estádios de futebol".  
  • A Real Federação Espanhola de Futebol anulou a expulsão de Vinícius Júnior, puniu o Valencia com uma multa de 45 mil euros (cerca de R$ 270 mil) e anunciou o fechamento da torcida do clube que fica atrás do gol, de onde saíram as maiores ofensas racistas, por cinco jogos.

O que explica o racismo no futebol

Reportagem da Agência Brasil debate que a repercussão dos ataques racistas direcionados ao atacante Vini Jr  mostra que este não é um fato isolado. Nos últimos anos, foram vários os casos de racismo contra atletas brasileiros no futebol europeu, dentro e fora de campo, mas que não se limitam ao Velho Continente. Eles também avançaram no Brasil.

 

Daniel Alves, Taison, Dentinho, Neymar, Roberto Carlos, Malcom, Richarlison, Hulk. Todos eles já foram vítimas de racismo na Europa, de bananas atiradas no gramado a sons que imitam os de um macaco nas arquibancadas. A mesma Espanha na qual Vinicius Júnior tem sofrido com manifestações racistas e de ódio foi palco de boa parte destes ataques.

 

No Brasil, a prática avança de maneira preocupante. Segundo levantamento do Observatório da Discriminação Racial do Futebol, foram registrados 90 casos de ofensas raciais em 2022, contra 64 em 2021. Um aumento de 40%.

 

Como informa a Agência Brasil, em janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 14.532, que tipifica a injúria racial como crime de racismo, que já era considerado delito no país, pela Lei 7.716, de 1989. O Regulamento Geral de Competições da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para 2023 indica punição a casos de discriminação, que pode variar de uma advertência até a perda de pontos.