
Ondas de calor no Brasil: o que explica esse fenômeno extremo?
O Brasil está enfrentando a terceira onda de calor de 2025, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Temperaturas extremas estão sendo registradas em diversas regiões do país, impactando a saúde da população e o meio ambiente. Mas o que está causando esse evento? Quais são suas consequências? E por que a sensação térmica pode ser tão diferente da temperatura real? Vamos entender melhor.
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O que é uma onda de calor?
O professor Reginaldo, do Curso e Colégio Prime, em Londrina, explica que uma onda de calor é caracterizada pela persistência de temperaturas do ar acima de um determinado limiar por um período prolongado. Esse limiar pode ser definido com base na média histórica ou climatológica da região, sendo necessário que a temperatura permaneça elevada por mais de três dias consecutivos.
A Organização Meteorológica Mundial estabelece que uma onda de calor ocorre quando as temperaturas máximas diárias ultrapassam em pelo menos 5°C a média histórica para aquele local e período do ano, critério também adotado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no Brasil.
Embora existam diferentes formas de definição, todas concordam que se trata de um evento climático extremo, ou seja, uma condição atípica para a região e época do ano. Isso significa que as temperaturas registradas durante uma onda de calor fogem do padrão esperado, tornando-se eventos de baixa frequência e com impactos significativos para o meio ambiente e a saúde humana.
O que explica a atual onda de calor no Brasil?
O aumento das temperaturas no Brasil está ligado a uma combinação de fatores meteorológicos. Segundo a pesquisadora Marina Hirota, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em entrevista à BBC Brasil, uma massa de ar quente está estacionada na região que abrange o Sul do Brasil, norte da Argentina e partes do Paraguai. Essa massa acompanha a subida de um ciclone extratropical, que está distante do país, mas influencia as condições climáticas.
Outro fator relevante é a presença dos chamados "jatos de baixos níveis", conhecidos popularmente como "rios voadores".
Os rios voadores são correntes de ar carregadas de umidade que se formam sobre a Amazônia e se deslocam pelo país. Eles são fundamentais para a distribuição das chuvas no Brasil, especialmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Quando essas correntes encontram massas de ar quente e estáveis, a umidade pode contribuir para um aumento significativo da sensação térmica, tornando o calor ainda mais sufocante.
Quais são as principais regiões afetadas?
Atualmente, estados como Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Goiás e Bahia estão enfrentando temperaturas elevadas. O Rio Grande do Sul, Santa Catarina e algumas áreas do Paraná estão sob alerta vermelho devido aos recordes registrados nos termômetros.
No Rio de Janeiro, a sensação térmica passou dos 40°C, atingindo o nível 4 de calor pela primeira vez desde que o protocolo municipal de temperaturas extremas foi implementado. Esse nível é caracterizado por índices de calor entre 40°C e 44°C, com previsão de permanência ou aumento por pelo menos três dias consecutivos.
Por que a sensação térmica é diferente da temperatura real?
O professor Reginaldo explica que a sensação térmica é influenciada por fatores como umidade do ar, velocidade do vento e radiação solar. Quando a umidade é alta, o suor não evapora com eficiência, dificultando a regulação da temperatura corporal e fazendo com que o calor pareça mais intenso. Já em locais secos, a evaporação do suor ocorre mais rápido, dando a sensação de um calor menos sufocante.
Essa variação também pode ser percebida em medições urbanas. Termômetros de rua, por exemplo, podem registrar temperaturas mais altas devido à incidência direta do sol e ao aquecimento do asfalto e dos prédios ao redor.
Mudanças climáticas
As ondas de calor estão se tornando cada vez mais frequentes e intensas devido às mudanças climáticas. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta que eventos extremos, como ondas de calor, chuvas intensas e secas prolongadas, já são realidade.
Compreender os mecanismos que geram essas temperaturas extremas e adotar medidas de proteção é fundamental. Hidratação, sombra e ambientes ventilados são aliados importantes para enfrentar esse calor intenso e preservar a saúde.
Manter-se informado e adotar práticas sustentáveis também são passos essenciais para minimizar os impactos das mudanças climáticas e garantir um futuro mais equilibrado para o planeta.
Quais são as consequências para o corpo humano?
Altas temperaturas impactam diretamente a saúde. A exposição prolongada ao calor intenso pode levar a desidratação, insolação, fadiga e exaustão pelo calor. Nos casos mais graves, pode ocorrer o golpe de calor, uma condição perigosa que eleva a temperatura corporal acima de 40°C, causando confusão mental, desmaios e podendo levar à morte.
Grupos vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas, precisam de atenção redobrada. A desidratação severa pode comprometer o funcionamento de órgãos vitais e agravar problemas cardíacos e respiratórios.
Dicas para minimizar os efeitos do calor
- Aplique protetor solar regularmente, seguindo as recomendações do fabricante, para proteger a pele da exposição intensa ao sol.
- Prefira roupas leves e confortáveis, mas que ofereçam proteção, como bonés, chapéus e óculos escuros.
- Evite exercícios físicos nos períodos mais quentes do dia para reduzir o risco de desidratação e exaustão térmica.
- Sempre que possível, permaneça em locais bem ventilados ou com sombra para aliviar o calor.
- Tenha cuidado com mudanças bruscas de temperatura, como sair de um ambiente com ar-condicionado direto para o calor intenso da rua.
- Reduza ou evite o consumo de bebidas alcoólicas, pois elas podem acelerar a desidratação.
- Proteja os animais de estimação: evite passeios sob o sol forte e mantenha sempre água fresca disponível para eles.
- Mantenha-se hidratado ingerindo bastante água e incluindo frutas, verduras e legumes na alimentação.
- Para aliviar o calor corporal, aplique compressas frias ou gelo envolto em tecido em áreas estratégicas, como nuca, axilas e virilha.
- Grupos como crianças, idosos, gestantes, trabalhadores expostos ao sol e atletas devem ter atenção especial, pois são mais vulneráveis às altas temperaturas.