O que é capacitsimo e por que o assunto deve ser discutido nas Paralimpíadas

Chegou a hora de torcer para os atletas brasileiros que disputam as Paralimpíadas de Tóquio 2020, a mais importante competição mundial da categoria e que reúne cerca de 4,3 mil atletas com deficiência de 165 países. A  equipe do curso Prime aproveita a grandiosidade do evento para lançar uma reflexão importante, que pode te ajudar a desenvolver repertório para redação do vestibular e do ENEM: você sabe o que é capacitismo?

 

Esse é o termo usado para designar o preconceito contra a pessoa com deficiência (PCD). Capacitismo associa a palavra “capacidade” ao sufixo “ismo” ( o mesmo usado em racismo ou machismo) para referir-se ao preconceito baseado na capacidade. É um assunto importante e com grandes chances de aparecer nas provas dos principais vestibulares, tanto na redação como nas provas de conhecimentos gerais. 

O que é capacitismo?

Convidamos a publicitária e palestrante Nana Datto, uma pessoa com deficiência, para explicar sobre o capacitismo e as consequências desse comportamento. Ela destaca que o “preconceito por capacidade” não se refere apenas à limitação da presença das PCDs em todos os âmbitos da sociedade, mas também à crença de que uma pessoa com deficiência não tem capacidade para levar uma vida independente e plena.

 

O termo capacitismo também diz respeito a um comportamento que parece ser positivo, mas esconde preconceito: são aqueles momentos em que exageramos na exaltação das qualidades de uma pessoa com deficiência que se destaca em algum setor, usando adjetivos como “guerreiro” ou “herói”. Esse comportamento é muito comum em tempos de paralimpíadas, quando nossas atenções se voltam a esses atletas que – como qualquer outro atleta – superaram desafios e limites para estarem presentes na maior competição esportiva mundial. 

 

Em resumo, o capacitismo leva a sociedade a não enxergar a pessoa com deficiência como um ser humano “normal”. Elas são sempre consideradas inferiores e menos capazes. Há, ainda, um senso comum de que não devem ser tratadas com equidade. 

Nana Datto conhece bem a realidade que as PCD enfrentam no dia a dia e confirma que o capacitismo traz consequências muito negativas. “Uma pessoa com deficiência tem necessidades específicas, mas isso não quer dizer que ela não tenha os mesmos direitos das pessoas sem deficiência. Atender as necessidades das pessoas com deficiência é a maneira correta de garantir a elas os seus direitos”, explica. 

 

Ela defende que as políticas públicas são muito importantes para sanar a segregação das pessoas com deficiência e garantir a inclusão. “São elas que garantem o acesso de pessoas diversas às universidades, aos espaços de lazer e que participem efetivamente da  vida em sociedade”, destaca, lembrando que oferecer acesso, nesse caso, tem também um sentido literal: é preciso que os espaços físicos sejam equipados, por exemplo, com rampas, elevadores e outras ferramentas que garantam a todos o direito real de ir e vir. 

E as Paralimpíadas?

Para torcer para o Brasil sem capacitismo, Nana Datto dá algumas dicas simples: interesse-se sobre a rotina, o cotidiano e os diferentes aspectos da vida dos atletas paralímpicos, sem focar apenas na deficiência. Não trate nossos paratletas como “guerreiros” ou “coitadinhos”. A equipe brasileira é formada por 259 atletas que vão competir em 20 das 22 modalidades do programa dos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Com tantos atletas em tantas modalidades diferentes, não faz sentido você continuar achando que são todos iguais.

 

O Blog do Prime pediu para Nana listar dicas importantes para combater o capacitismo e promover a inclusão de pessoas com deficiência. Confira: 

9 dicas para promover a inclusão de pessoas com deficiência

1 – Cuidado com seu olhar

Não olhe a pessoa com deficiência com estranhamento, desprezo ou preconceito.  Ao contrário, seu olhar precisa ser empático e humanizado. O “diferente” sempre gera curiosidade, mas não esqueça que a pessoa com deficiência enfrenta esse tipo de situação todos os dias e pode não se sentir à vontade com olhares incômodos. Lembre-se: todas as pessoas são diferentes, únicas e devem ser tratadas com respeito. 

2 – Quando oferecer ajuda a uma pessoa com deficiência?

Nana Datto é enfática nessa resposta: ofereça ajuda apenas quando a pessoa pedir ou se você tiver certeza que ela realmente precisa, como no caso de situações perigosas ou muito estressantes. Na dúvida, siga os mesmos critérios que você adotaria com uma pessoa sem deficiência. Evite, ainda, infantilizar a pessoa na hora de oferecer apoio ou chamá-la de “coitada”. 

3 – Não expresse comportamentos de piedade ou dó

Nenhuma pessoa com deficiência  em situação de exclusão social é digna de dó. Pelo contrário, ela necessita de políticas públicas que a protejam e de uma sociedade que a respeite. Por isso, Nana orienta a ter cuidado com os olhares, palavras e atitudes, evitando a pena e também o deboche. Ninguém gosta de entrar em um ambiente público e ser excluído, por isso, antes de se referir a uma PCD, questione: e se fosse comigo?

4 – Entenda que você pode torar o mundo mais inclusivo

Não é preciso ser uma pessoa com deficiência para lutar por um mundo mais acessível e diverso. Entre na batalha da inclusão e promova a acessibilidade e a visibilidade dessa parcela da população. As pessoas com deficiência já têm sua própria voz, mas precisam de espaço para que ela ecoe. 

5 – Diga não ao preconceito

Não dê espaço para piadas e deboche em relação a PCDs e contribua para que elas tenham uma vida mais digna, com espaços acessíveis onde possam se locomover com autonomia e conforto. A oferta de rampas e elevadores, por exemplo, garante dignidade à locomoção de pessoas com deficiência, adultos com crianças de colo e idosos. A falta de acessibilidade não é um problema do PCD, mas do estado e da sociedade.  

6 – Sou responsável por um estabelecimento público. Como promover a acessibilidade? 

Se você é responsável por um estabelecimento comercial, educacional ou espaços para prática de esportes, inclua a acessibilidade eficiente, com rampas, elevadores e informações em braile desde o início do seu projeto. Idealize seu estabelecimento como um local que qualquer pessoa possa frequentar, isso inclusive vai valorizar a marca. 

7 – Como atender uma pessoa com deficiência?

 Acolha e escute sobre o que ela precisa, lembrando que trata-se de uma pessoa única com necessidades individuais. Escute com atenção, sem pré-julgamentos e só depois ofereça sugestões, sempre de acordo com o limite da pessoa. Cuidado para não deixá-la envergonhada ou coagida. 

8 – PCD não é especial

A deficiência não deixa o indivíduo melhor ou pior que ninguém. É apenas uma condição, por isso, não use o termo “especial”. Busque orientações sobre capacitismo e adote esse conhecimento no seu dia a dia. 

9 – Como superar uma situação de preconceito?

Se você foi desagradável ou preconceituoso com uma pessoa com deficiência, seja sincero e exponha suas desculpas com delicadeza, reconhecendo sua responsabilidade. Aprenda com seus erros para não perpetuar a discriminação em outros ambientes e não insista no assunto se a pessoa não estiver confortável. A PCD não tem obrigação de ensinar sobre inclusão, há muita informação disponível na internet que vão ajudá-lo a entender e promover a inclusão.